Petróleo na Amazônia: A boiada pede passagem

Vista aérea do gasoduto Urucu-Coari, no Amazonas - Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação/Petrobrás

Por Léo Miguel Endrigo Pommer*

Não chega a me surpreender ver Lula acenar simpaticamente para os interesses do grande capital, mas decepciona.

Causaram-me desconforto suas falas eufemísticas e relativizadoras em relação à exploração de petróleo na bacia do rio Amazonas, sinalizando um apoio à pretensão da Petrobrás de realizar prospecções e explorações petrolíferas naquele local e contrariando, assim, parecer técnico emitido por analistas ambientais do IBAMA, que recusou concessão de licença para a estatal.

As declarações de Lula constituem uma postura duplamente contraditória do chefe do governo, de alcance interno e externo, haja vista que estamos justo em um momento no qual o mundo discute a ampliação e criação de novas matrizes energéticas limpas e renováveis como alternativa aos combustíveis fósseis, e também diante do compromisso assumido pelo atual governo federal com o fortalecimento da política ambiental do país, desmontada e devastada no governo anterior.

Pesquisar e explorar petróleo na foz do Amazonas vai trazer mais danos ambientais que riqueza para a população local. De acordo com recente declaração de Rodrigo Agostinho, presidente do IBAMA, o poço seria perfurado a pouco mais de 100 quilômetros da costa e da cidade de Oiapoque-AP, em uma região que abriga 80% dos manguezais do país e onde há, inclusive, populações indígenas.

Modelos alternativos e avançados, baseados em bioeconomia e extrativismo sustentável, com manejo comunitário de recursos naturais, é o que se deve fomentar na região amazônica, e não tecnologias degradantes e ultrapassadas que ameacem o equilíbrio socioambiental.

O IBAMA, que demonstrou cumprir sua missão institucional com responsabilidade, é uma entidade autônoma, autarquia federal que detém autoridade técnica, criada para executar a política nacional de proteção ao meio ambiente e não está sob o controle direto do governo federal, ou seja, não pode sofrer ingerência política.

Entretanto, nesse país das tramas institucionais, é claro que, apoiados na pressão exercida pelo lobby petroleiro, mais que depressa vão enfiar novos estudos técnicos para arrancar do IBAMA esse licenciamento ambiental pra perfurar a área, custe o que custar, na contramão do bom senso e das novas tendências ambientais globais.

Enquanto uma parcela teleguiada da esquerda segue distraída, rindo e fazendo meme do Deltan Dalagnol, tem líder do governo tentando “passar a boiada” na Amazônia. Depois que a cortina de fumaça passar, o estrago já poderá estar feito.

Que Lula tenha coerência ideológica e espírito republicano suficientes para não se deixar pressionar pelo necrocapitalismo e pelos velhos interesses oligárquicos, que sempre desprezam e soterram as necessidades do povo.

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*Léo Miguel Endrigo Pommer é pessoa trans, Bacharel em Direito, Educador Social, defensor dos direitos humanos e entusiasta da causa ambiental e animal

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